Nascido em 1908, no sul dos
Estados Unidos. Filho de agricultor, ele foi um dos repórteres mais talentosos
da revista The New Yorker. Joseph tinha total liberdade na revista, ele podia
escrever o que quisesse, no tempo que precisasse. Morreu de câncer em 1996.
Joseph Mitchell é um dos
nomes mais respeitados da prosa de não-ficção americana. Seu estilo, ricamente
sintético e informativo, possui uma elegância inusual e a exatidão obstinada
dos grandes escritores. Os perfis e pequenas reportagens de Mitchell ajudaram a
criar os paradigmas de um novo tipo de jornalismo que se configurava lentamente
nos Estados Unidos, e que teve seu auge na turbulenta década de 1960:
francamente narrativa e construída a partir de uma inédita posição subjetiva,
como a prosa marcada por uma linguagem diferente da que era usualmente
utilizada em jornais e revistas, a escrita jornalística foi elevada a categoria
de arte. Porém, se é certo que esse jornalismo literário norte-americano foi
responsável por uma reviravolta na gramática e mentalidade dos meios de
comunicação, também seria correto afirmar que, para conquistar seu espaço e
atrair leitores, ele teve que se ater principalmente a personalidades
extravagantes e grandes acontecimentos históricos. Seu espaço de excelência foi
o dramático e fora do comum, simplesmente porque para se narrar o mundo
ordinário dos homens necessita-se de uma sensibilidade que é o avesso do
próprio espírito comercial do jornalismo: uma apaixonada vocação para o
insignificante. Opor crônicas de famílias mafiosas ao cotidiano de ciganos
maltrapilhos; enxergar a idade secular de um relógio de parede enquanto o homem
pisa, tateante, na Lua; preterir o glamour de astros e produtores de roque a
música dos tristes solistas de metrô; os cuidados que um jardineiro dedica às
suas rosas e orquídeas numa praça qualquer aos horrores secessivos de um
assassinato brutal. Joseph Mitchell, nesse sentido, foi um gigante em tom
menor: sua prosa magistral só alcança o cotidiano do anonimato. Talvez por
isso, pela sublime monumentalidade que desvendou nos hábitos mais mínimos, pela
vitória que infligiu ao tempo, seu nome seja uma das referências capitais de um
movimento de cuja participação, inclusive, desconhecia. Com seus perfis e
reportagens sobre miudezas, tornou-se um clássico involuntário; e, mesmo que a
Nova Iorque de seu trabalho tenha perecido e seja apenas sombra de segundos
nunca mais repetidos, são inegáveis o frescor e a atualidade de sua prosa e a
perseverança de sua imaginação.
Nathalia Cirillo