terça-feira, 14 de maio de 2013
O segredo de Joe Gould
O Segredo de Joe Gould se caracteriza por ser bem mais que uma reportagem. Não apenas pela qualidade do texto, a capacidade de escutar e a paciência do repórter Joseph Mitchell, mas também pela relação que se estabeleceu entre entrevistador e entrevistado.
Mitchell se interessou por Joe Gould por duas razões: por este ser um homem solitário e também por ser autor da História Oral, obra à qual Gould dedicou muitos anos de sua vida, percorrendo a cidade de Nova York, ouvindo as pessoas e anotando tudo que lhe parecesse interessante,Gould era um exemplo perfeito do tipo de excêntrico comum em Nova York, o notívago solitário, e era esse traço dele que mais me interessava.
O repórter manteve o segredo de Joe Gould por muitos anos e só o revelou sete anos após a morte de Gould. Um segredo que por muitos momentos ele se arrependeu de ter descoberto e que virou tabu entre ambos: nunca discutiram a fundo a questão, pois Mitchell percebeu que o segredo era a própria vida de Gould.
Não revelaremos o segredo de Joe Gould por amizade ao leitor. No entanto, para aguçar ainda mais a curiosidade pela leitura da obra, acrescentamos que depois que Mitchell revela o segredo de Gould, passa a revelar alguns de seus próprios segredos e a perceber suas próprias e insuspeitas semelhanças com o boêmio, mendigo, excêntrico e interessantíssimo Joe Gould.
Novamente nas palavras de Mitchell: ‘O Excêntrico Autor de um Grande Livro Misterioso e Inédito essa era sua máscara. Escondido atrás dela, criara um personagem muito mais complexo, a meu ver, do que a maioria dos personagens criados pelos romancistas e dramaturgos de sua época.
A vida e quem sabe até mesmo o jornalismo supera a ficção. No entanto, nunca é demais lembrar que o repórter teve todo o tempo de que necessitou para escrever sua matéria. Eram tempos em que era possível praticar o jornalismo literário, hoje devidamente ultrapassado pelo jornalismo em tempo real. Tempo real no qual um personagem como Joe Gould talvez só pudesse existir na ficção.
Larissa Karoline
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