terça-feira, 14 de maio de 2013

O segredo de Joe Gould




O atual cenário do jornalismo convencional, com toda a sua lógica industrial
de leads, pirâmide invertida, pautas etc, nos despertou o interesse em estudar
um modelo do jornalismo pouco discutido entre os estudantes de
comunicação: o Jornalismo Literário. Hoje, o excesso de trabalho e a falta de
tempo não facilitam o processo de construção de textos com características
literárias. Os recursos e espaços nos jornais impressos não permitem que haja
abertura para textos mais longos. Informações fragmentadas são justificativas
de que os leitores não gostam e estão sem tempo para ler, tornando claro o
preconceito que atinge grande parte dos meios de comunicação.
Nesse cenário, a imprensa perde a oportunidade de contar histórias de vidas
que poderiam despertar nos leitores uma identificação que vai além do
simples fato cotidiano. Histórias que poderiam gerar empatia fariam com que
o leitor se identificasse com a experiência do outro. A preocupação com este
jornalismo cada vez mais engessado fez com que escolhêssemos um objeto de
pesquisa que é considerado uma obra-prima do Jornalismo Literário. Sendo
assim, acreditamos que de alguma forma proporcionaremos uma oxigenação
às práticas jornalísticas dos que lêem este trabalho, bem como das prateleiras
que estão cheias de monografias que, muitas vezes, não trazem nada de novo
e que poderiam agregar algum valor à atividade jornalística.
Este trabalho tem como problema de pesquisa a busca da verificação dos
elementos jornalísticos e literários e seus hibridismos na construção dos perfis
de Joe Gould.






a obra de Joseph Mitchell é considerada um dos
clássicos do jornalismo literário. O interesse também surge por ter sido ele
um jornalista que sabia ouvir. Seu jeito ímpar de narrar o mundo também
desperta a curiosidade de estudar seus textos, em especial o perfil de Joe
Gould. A grande representatividade do hibridismo entre jornalismo e
literatura encontrada no livro é um fator que também aguça o interesse em
estudá-lo. Todas essas características nos fazem acreditar que o objeto de
análise poderá contribuir para uma nova visão para além do jornalismo
convencional, criando discussões saudáveis em âmbito acadêmico.
Joseph Mitchell foi um dos jornalistas americanos mais respeitados do século
XX. Destacou-se pela forma minuciosa que utilizava para descrever seus
personagens. Em O Segredo de Joe Gould (2003), ele narra a convivência
com o personagem desde o primeiro encontro. Segundo João Moreira Salles,
no posfácio escrito para o livro.






Devido à grande relevância no cenário do jornalismo e da literatura, nosso
problema de pesquisa é verificar os elementos dos textos jornalístico e
literário e seus hibridismos na construção dos perfis de Joe Gould. Na
metodologia será feita análise de conteúdo com duas modalidades: análise
categorial e análise de discurso.
À princípio, será feita uma categorização que irá abordar aspectos de um
texto jornalístico, as características dessa prática e suas limitações. Serão
analisadas também as divergências e convergências do jornalismo e da
literatura. Para a análise serão retirados trechos do texto para aplicação dos
conceitos teóricos. Também serão abordados aspectos de um texto literário,
como a narração do espaço: paisagens, interiores, objetos, a livre
interpretação etc. A análise do discurso será fundamental visto que serão
feitas observações detalhadas do sujeito no texto.
O objeto empírico a ser analisado é o livro O Segredo de Joe Gould (2003),
de Joseph Mitchell. Ele faz parte da coleção Jornalismo Literário, da
Companhia das Letras e foi publicado em 2003, pela Editora Schwarcz, cujo
título original é Joe Gould’s Secret. A tradução foi feita por Hildegard Feist,
com posfácio de João Moreira Salles.
O livro possui dois perfis de um mesmo personagem, escritos pelo jornalista
Joseph Mitchell para a revista The New Yorker. O primeiro, O Professor
Gaivota, foi escrito em 1942 e publicado na edição de 12 de dezembro do
mesmo ano. O segundo, O Segredo de Joe Gould, saiu nas edições de 19 e 26
de setembro de 1964, 22 anos depois.

Rodrigo Bifani


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